domingo, 26 de abril de 2009

Grândola vila morena...

Vem um dia atrasada mas não podia deixar de marcar esta data no meu blog neste ano, 2009, em que festejamos 35 anos de liberdade de expressão, 35 anos de 25 de Abril

Breve cronologia

1974
24 Abril [Quarta-feira]
22h55 Os Emissores Associados de Lisboa tocam a canção ?E depois do Adeus?, interpretada por Paulo de Carvalho, vencedora do Festival da Eurovisão dias antes. Está no ar o primeiro sinal do golpe militar.
25 Abril [Quinta-feira]
00h30 A canção ?Grândola, Vila Morena? de José Afonso vai para o ar no programa ?Limite? da Rádio Renascença servindo de senha ao movimento para confirmar que a operação se encontra em marcha e é irreversível.1h Inicia-se a acção revolucionária do Movimento das Forças Armadas (MFA) em Tomar, Vendas Novas, Lisboa, Figueira da Foz, Viseu, Mafra, Estremoz e em outros pontos. No Regimento de Engenharia 1 na Pontinha, Otelo Saraiva de Carvalho e outros cinco oficiais ligados ao Movimento das Forças Armadas comandam as operações de um posto de comando clandestino.
3h São ocupados os estúdios da RTP, do RCP, aeroporto de Lisboa, além de outros pontos vitais.4h20 Primeiro comunicado do Movimento das Forças Armadas lido por Joaquim Furtado aos microfones do Rádio Clube Português: ?Aqui posto de comando do MFA: informa-se a população de que, no sentido de evitar todo e qualquer incidente, deverá recolher a suas casas mantendo absoluta calma. A todos os componentes das forças militarizadas, nomeadamente das forças da GNR, PSP e ainda às forças da Direcção-Geral de Segurança [DGS/PIDE] e Legião Portuguesa, que abusivamente foram recrutadas, lembra-se o seu dever cívico de contribuírem para a manutenção da ordem pública, o que na presente situação só pode ser alcançado se não for posta qualquer reacção às Forças Armadas. Tal reacção (?) apenas conduziria a um indesejável derramamento de sangue (?). Embora estando crentes do civismo e do bom senso de todos os portugueses, no sentido de evitarem qualquer recontro armado, apelamos para que os médicos e pessoal de enfermagem se apresentem nos hospitais para uma colaboração que fazemos votos por que seja desnecessária.?Ao longo do dia sucedem-se os comunicados com informações sobre os alcances do golpe militar e apelos à população para que mantenha a serenidade.
4h45 Novo comunicado apelando às forças militarizadas para que os seus elementos regressem aos quartéis e a avisar que as chefias que conduzirem os seus subordinados à luta com o MFA serão severamente responsabilizados.
5h Tropas ocupam a área que envolve o Quartel-General da Região do Porto.
5h15 Comunicado discriminando as forças potencialmente opositoras ao MFA: Polícia de Segurança Pública, Guarda Nacional Republicana, Direcção-Geral de Segurança / PIDE e Legião Portuguesa.
7h Veículos militares permaneciam estacionados na Calçada da Ajuda, frente ao quartel de Cavalaria 7. Permaneciam fechadas as portas do Palácio Presidencial de Belém, no seu interior permanecem soldados da GNR.
7h30 Um novo comunicado começa a ser repetido através da rede FM do Rádio Clube Português: ?(?) O Movimento das Forças Armadas, que acaba de cumprir com êxito a mais importante das missões cívicas dos últimos anos da nossa História, proclama à Nação a sua intenção de levar a cabo, até à sua completa realização, um programa de salvação do País e de restituição ao Povo Português das liberdades cívicas de que vem sendo privado. Para o efeito, entrega o Governo a uma Junta de Salvação Nacional a quem exige o compromisso, de acordo com as linhas gerais do Programa do Movimento das Forças Armadas que através dos órgãos informativos será dado a conhecer à Nação, de no mais curto prazo consentido pela necessidade de adequação das nossas estruturas promover eleições gerais de uma Assembleia Nacional Constituinte, cujos poderes, por sua representatividade e liberdade na eleição, permitam ao País escolher livremente a sua forma de vida social e política. Certos de que a Nação está connosco e que, atentos os fins que nos presidem, aceitará de bom grado o governo militar que terá de vigorar nesta fase de transição, o Movimento das Forças Armadas apela para a calma e civismo de todos os Portugueses e espera do País adesão aos poderes instituídos em seu benefício (?)?. O comunicado termina com ?Viva Portugal!?.7h50 O aeroporto de Pedras Rubras [actualmente de Francisco Sá Carneiro], no Porto, é encerrado por forças vindas de Viana do Castelo de onde tinham saído às 2h da manhã. As pontes D. Luís e da Arrábida estão guardadas por tropas com bazucas e espingardas.
8h Uma coluna militar composta por quatro carros de combate, jipes e camiões põe-se em movimento para o centro da cidade de Lisboa e estaciona a seguir ao Cais do Sodré, na Avenida da Ribeira das Naus. Os canhões dos carros de combate virados para poente em posição de defesa do Terreiro do Paço. No decorrer desta operação são travados 12 jipes da GNR adversos ao movimento.
9h Os quartéis de Belém, Lisboa mantinham as portas fechadas, junto dos muros permaneciam grupos de soldados armados.
11h30 Rendição do Quartel-general da Legião Portuguesa depois de um ultimato com prazo de 15 minutos.
11h45 O Movimento das Forças Armadas anuncia, em comunicado, que a operação é quase triunfante mas aconselha a população a manter a calma para evitar o recolher obrigatório e recomenda o encerramento dos estabelecimentos comerciais para impedir o açambarcamento.
12h As forças presentes no Terreiro do Paço subdividem-se e dirigem-se para o Largo do Carmo e para a rua António Maria Cardoso.
13h Tropas do Movimento das Forças Armadas (MFA), comandadas pelo Capitão José Salgueiro Maia, de 29 anos, recém-chegado das campanhas da Guiné, tomam posições no Quartel da Guarda Nacional Republicana no Largo do Carmo, Lisboa, onde se encontram refugiados Marcello Caetano, Presidente do Conselho e dois dos seus ministros.
14h Grande concentração de populares junto ao Largo do Carmo.14h45 Em comunicado o MFA discrimina os objectivos já dominados: Comando da Legião Portuguesa, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Rádio Televisão Portuguesa, Rádio Marconi, Banco de Portugal, Quartéis-Generais de Lisboa e Porto, instalações do Quartel Mestre General, Ministério do Exército, aeroporto da Portela, aeródromo da Base nº1, Manutenção Militar, posto de TV de Tróia e Penitenciária de Lisboa.
15h O edifício do Largo do Carmo está na iminência de ser destruído a tiro de canhão. Após vários apelos à rendição dos membros do Governo deposto que permanecem no interior do quartel, o Capitão Salgueiro Maia lança um ultimato por megafone: ?Atenção quartel do Carmo. Damos 10 minutos para se renderem. Todas as pessoas que ocupam o quartel devem sair desarmadas e com as mãos no ar. Se não saírem destruiremos o edifício!? Sem resposta, as Forças Armadas lançam um tiroteio intenso, mas só com armas ligeiras. Minutos depois um segundo tiroteio. Chegam ao largo Feytor Pinto, ex-director dos Serviços de Informação e Nuno Távora, funcionário daquele organismo, para negociar a rendição dos sitiados. Após conferenciarem com Salgueiro Maia entram no edifício cercado onde conversam com Marcello Caetano.
17h Feytor Pinto e Nuno Távora seguem para a residência do General António Spínola a quem comunicam o desejo de Marcello Caetano de lhe entregar o comando das Forças Armadas.
17h40 António Spínola chega ao Largo do Carmo e, muito ovacionado pela população, dirige-se ao quartel-general. 19h Marcello Caetano e dois dos seus ministros são transportados do quartel-general numa chaimite de nome ?Bula? para o Regimento de Engenharia 1 na Pontinha onde está instalado o Posto de Comando do MFA. Daí, Marcello Caetano, Américo Tomás, Presidente da República, e alguns membros do Governo partirão rumo à Madeira. A 20 de Maio rumarão ao Brasil que lhes concede asilo político.
20h Forças da Direcção-Geral de Segurança ? PIDE/DGS disparam rajadas de metralhadora e lançam gases lacrimogéneos contra jovens que se manifestam junto à sede daquela força na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa. O tiroteio dura 7 minutos. Os manifestantes protegem-se atirando-se para debaixo dos automóveis em frente ao Teatro S. Luiz. Cinco jovens são atingidos mortalmente.20h Em comunicado dos estúdios do Rádio Clube Português, as Forças Armadas anunciam: ?O professor Marcello Caetano apresentou a sua rendição incondicional ao General Spínola. O Movimento das Forças Armadas agradece a toda a população o civismo e a colaboração demonstrados. Continua a reinar a maior calma (...).?
20h30 A Direcção -Geral de Segurança -DGS é cercada pelo MFA.21h A multidão engrossa à porta da DGS e ali permanece até às 23h não obstante a chuva. Enquanto alguns agentes da PIDE/DGS se rendem outros tentam fugir. Um elemento da DGS resiste a um militar que o identifica, tenta fugir e é abatido por uma rajada de G3.

26 Abril [Sexta-feira]
1h É formada a Junta de Salvação Nacional (JSN) presidida pelo General António de Spínola. Em comunicado através dos microfones do RCP e da RTP, Spínola faz uma Proclamação dirigida à Nação onde explica que a JSN foi ?constituída pelo imperativo de assegurar a ordem e de dirigir o País?. Por isso assume o compromisso de: ?Promover a consciencialização dos Portugueses, permitindo plena expressão a todas as correntes de opinião em ordem a acelerar a constituição das associações cívicas e a regularizar tendências e facilitar a livre eleição por sufrágio directo de uma Assembleia Nacional Constituinte, e a sequente eleição do Presidente da República; Garantir a liberdade de expressão e pensamento; Abster-se de qualquer atitude política que possa condicionar a liberdade de eleição, e a tarefa da futura Assembleia Constituinte, evitar por todos os meios que outras forças possam interferir no processo que se deseja eminentemente nacional (?)?.
2h O cerco à Direcção-Geral de Segurança, na Rua António Maria Cardoso, é reforçado por três autocarros de Fuzileiros.
2h30 O edifício da DGS ainda resiste, mas à hora o assalto parece iminente. As Forças Armadas apelam à rendição através de megafones.6h05 Marcello Caetano, Américo Tomás, Moreira Baptista, ministro do Interior, Silva Cunha, ministro da Defesa, Rui Patrício, dos Negócios estrangeiros e Rebelo de Sousa, do Ultramar, partem num avião ?DC-6? da Base nº 1 na Portela em direcção à ilha da Madeira.
7h Elementos do Exército impedem a fuga de agentes da PIDE do edifício da DGS no Largo Soares dos Reis, no Porto.
8h30 O Estabelecimento prisional de Caxias é ocupado por fuzileiros e pára-quedistas que sem oposição detêm os agentes da DGS no seu interior. Os presos políticos são soltos das celas e encaminhados para o pátio interior onde aguardam ordem de saída para o exterior.9h30 Rendição da DGS. Os cerca de 200 agentes que permaneceram sitiados durante a noite são conduzidos sob prisão para Caxias, onde os presos políticos acabavam de ser libertados.

27 Abril [Sábado]
A Junta de Salvação Nacional, presidida por António Spínola, instala o seu quartel-general no Palácio da Cova da Moura, Lisboa. O objectivo prioritário: continuar a dirigir a vida da Nação, tendo em conta as remodelações operadas no poder. Mais tarde devido à exiguidade das instalações muda-se para o Palácio de Belém.O Brasil reconhece a Junta de Salvação Nacional chefiada por Spínola. Para Marcos Freire, parlamentar da oposição, a queda do regime português ?tem significado universal? e ?representa a restituição da soberania ao Povo.?
28 Abril [Domingo]
12h45 O comboio ?Sud-Expresso? com entrada na fronteira de Vilar Formoso trás Mário Soares, secretário-geral do Partido Socialista Português (PSP) de regresso a Portugal. Mário Soares estava exilado em Paris e chega com a sua esposa Maria Barroso e os dirigentes do PSP Tito Morais e Ramos Costa. É recebido na estação de Santa Apolónia em Lisboa por amigos e anónimos empunhando cartazes onde se lê: ?O Povo unido jamais será vencido? e ?Foram 48 anos de terror?.A África do Sul reconhece o novo?Governo Militar de Portugal?, mas manifesta-se preocupada com a atitude do novo regime relativamente aos territórios de Portugal em África.

30 Abril [Terça-feira]
Catorze anos após a sua fuga da cadeia do Forte de Peniche, Álvaro Cunhal, secretário ? geral do Partido Comunista Português regressa a Portugal.

1 Maio [Quarta-feira]
O 1º de Maio é, finalmente, feriado nacional em Portugal. Um mar de gente em festa, festeja nas ruas do País, O Dia do Trabalhador.

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