segunda-feira, 9 de março de 2009

Uma lágrima por ti chorei...




Todos os seres humanos estabelecem relações afectivas com os outros, umas mais outras menos intensas. Esta intensidade depende da proximidade do relacionamento, bem como do envolvimento emocional. Por isso, situações de ruptura são sempre complexas, pois implicam a vivência do fenómeno da perda e/ou posterior elaboração de um processo de luto. Reportar-me-ei a este último conceito.
A nossa sociedade parece ainda não estar preparada para lidar normalmente com o fenómeno da morte, sendo esta, a mais comum das vezes entendida como a degradação do corpo e finitude da vida. É vivida intensamente, pois nunca desejamos separar-nos daqueles que nos são próximos, querendo tê-los sempre ao pé de nós. Não será esta atitude contraproducente? Ou seja, o que com isto quero dizer é que, ao invés de vivermos atormentados com a perda e querermos prolongar o sofrimento de outrém em prol do nosso bem-estar psicológico, porque não a encarar como um processo de transição?
Apesar dos avanços crescentes da medicina, há cada vez mais pessoas a sofrer de doenças crónicas e incapacitantes, em que a única coisa que se pode fazer é prolongar a vida do doente por mais algum tempo, ainda que isso acarrete agravamentos na sua qualidade de vida. Não raras vezes os familiares procuram (ou são encaminhados para) apoio psicoterapêutico, devido ao sofrimento que se encontram a vivenciar, o que é um acontecimento normal. Toda a dor e sofrimento devem ser exteriorizados, para sua posterior elaboração e seguimento de um processo de luto normal. Em doenças terminais, quando a medicina não mais pode oferecer do que cuidados paliativos, deve então fornecer-se ao doente a qualidade de vida que ele tanto merece, que pode passar por diversos níveis.
Desde cuidados adequados em centros especializados, a visitas de familiares e amigos para uma última despedida, à realização de últimos desejos e cumprimento de tarefas necessárias à organização da vida dos que cá ficam após a sua morte. É comum que os doentes sofram mais com a dor que sentem que estão a provocar nos outros, do que com a sua própria condição. É importante falar-se com eles sobre a própria morte, atenuando as suas preocupações, a sua dor, tranquilizando-os para o momento da partida. Porque é algo comum, a que todos devemos estar sensibilizados, procurando não vivê-la com uma tonalidade de dor e amargura. Muito do nosso sofrimento passa pelas representações que adquirimos ao longo da vida. E a vivência do luto deve começar a ser encarada como algo inevitável na vida de todos nós.
Qualidade de vida, tranquilidade e bem-estar não são sinónimos de dor e sofrimento nos últimos dias... O toque e um sorriso podem relevar mais do que uma lágrima em momentos de aflição.


Por Joana Patrícia Dias

Licenciada em Psicologia



Sem comentários: