"Helena Norte
Não há limites de tempo definidos na lei para prestar socorro a uma vítima de doença súbita ou acidente. O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), responsável pela coordenação da assistência pré-hospitalar, não está obrigado a qualquer protocolo com prazos máximos para chegar até ao doente e depois transportá-lo para o hospital. Nem sabe quais são os tempos médios de espera. O novo presidente, Abílio Gomes, toma hoje posse com o INEM debaixo de fortes críticas, devido aos recentes casos de alegada desarticulação com os bombeiros. Herda, também, um instituto que conheceu uma expansão ímpar nos últimos anos.
A evolução registada na assistência pré-hospitalar é consensual. Há mais ambulâncias e melhores equipamentos, mais médicos a prestar socorro no terreno e mais técnicos formados. Mas continua a haver falhas. Até no plano legislativo. A lei é omissa quanto aos tempos limite de socorro às vítimas e sobre o tipo de assistência a mobilizar, denuncia Vítor Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência. "Meia hora para chegar a uma Urgência não é aceitável. É fundamental que haja legislação", defende. Mas, em Portugal, não há leis nem recomendações sobre a matéria. Nem o INEM tem estatísticas sobre o tempo médio que os doentes esperam pelo socorro.
A existência destes protocolos obrigaria, por exemplo, a reforçar e reorganizar os meios em função das distâncias, das condições de acesso e dos serviços de urgência. Ou seja, criar uma verdadeira rede nacional de ambulâncias com base em critérios de operacionalidade e não apenas de rácios (uma ambulância para 40 mil habitantes), como defende Duarte Caldeira, presidente da Liga Portuguesa de Bombeiros.
Falhas no sistema
A decisão sobre o tipo de meios accionar perante um pedido de socorro - quer seja por doença súbita ou acidente - é do médico de serviço no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). Dependendo da gravidade da situação, pode ser deslocada apenas uma ambulância de socorro (do INEM, dos bombeiros ou da Cruz Vermelha). Caso seja necessário prestar suporte avançado de vida, segue uma viatura médica de emergência e reanimação (VMER), tripulada por um médico e um enfermeiro, ou um helicóptero.
As falhas podem acontecer quer na triagem, que é feita com base nas informações - nem sempre correctas - fornecidas por quem faz a chamada para o 112, ou no accionamento dos meios. O não envio de assistência é a queixa mais frequente do INEM (67 de um total de cem, no primeiro trimestre de 2007).
Em teoria, as ambulâncias de socorro deviam ter sempre uma tripulação composta por dois elementos (um deles com curso de técnico de ambulância de emergência), mas a realidade não é essa. O recente caso de Alijó - onde as duas corporações de bombeiros tinham apenas um elemento no quartel, inviabilizando, assim, a saída de uma ambulância durante a noite - é exemplo das fragilidade do sistema.
25 concelhos sem INEM
Alijó é um dos 25 concelhos do país em que o INEM não tem ambulâncias colocadas nem protocolos com os bombeiros, o que significa que as corporações locais recebem apenas em função do número de transportes que realizam. Sem apoios fixos, muitas não conseguem ter recursos suficientes para garantir dois tripulantes por ambulância, 24 horas por dia. Mas nem as que têm acordos com o INEM garantem a guarnição legalmente exigida. E há ambulâncias a funcionar apenas com o motorista ou com dois tripulantes sem a formação adequada.
Duarte Caldeira acusa o INEM de secularizar os bombeiros, desaproveitando os meios já instaladas, ao mesmo tempo que insiste numa "política autofágica e centrada no seu umbigo".
Alheio às críticas dos bombeiros, o INEM, sob a direcção de Cunha Ribeiro, prosseguiu uma estratégia de profissionalização dos serviços de socorro, assumindo protagonizo crescente. O fecho de maternidades, serviços de atendimento permanentes (SAP) e urgências fez aumentar a pressão sobre este organismo. À revolta pela falta de serviços junta-se a contestação à resposta do sistema de emergência. O INEM está debaixo de fogo. Neste clima de contestação às reformas da Saúde, cai o ministro Correia de Campos e, depois, o presidente do INEM, Cunha Ribeiro, já com a gestão de Ana Jorge. O coronel médico Abílio Gomes é o homem escolhido pela nova ministra para presidir ao instituto. Sendo certo que o INEM vai continuar a sua estratégia de reforço de meios e de profissionalização dos serviços, importa saber qual a dinâmica que vai imprimir ao funcionamento da rede e, mais do que isso, como vai gerir a conturbada relação com os bombeiros."
Não há limites de tempo definidos na lei para prestar socorro a uma vítima de doença súbita ou acidente. O Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), responsável pela coordenação da assistência pré-hospitalar, não está obrigado a qualquer protocolo com prazos máximos para chegar até ao doente e depois transportá-lo para o hospital. Nem sabe quais são os tempos médios de espera. O novo presidente, Abílio Gomes, toma hoje posse com o INEM debaixo de fortes críticas, devido aos recentes casos de alegada desarticulação com os bombeiros. Herda, também, um instituto que conheceu uma expansão ímpar nos últimos anos.
A evolução registada na assistência pré-hospitalar é consensual. Há mais ambulâncias e melhores equipamentos, mais médicos a prestar socorro no terreno e mais técnicos formados. Mas continua a haver falhas. Até no plano legislativo. A lei é omissa quanto aos tempos limite de socorro às vítimas e sobre o tipo de assistência a mobilizar, denuncia Vítor Almeida, presidente da Associação Portuguesa de Medicina de Emergência. "Meia hora para chegar a uma Urgência não é aceitável. É fundamental que haja legislação", defende. Mas, em Portugal, não há leis nem recomendações sobre a matéria. Nem o INEM tem estatísticas sobre o tempo médio que os doentes esperam pelo socorro.
A existência destes protocolos obrigaria, por exemplo, a reforçar e reorganizar os meios em função das distâncias, das condições de acesso e dos serviços de urgência. Ou seja, criar uma verdadeira rede nacional de ambulâncias com base em critérios de operacionalidade e não apenas de rácios (uma ambulância para 40 mil habitantes), como defende Duarte Caldeira, presidente da Liga Portuguesa de Bombeiros.
Falhas no sistema
A decisão sobre o tipo de meios accionar perante um pedido de socorro - quer seja por doença súbita ou acidente - é do médico de serviço no Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). Dependendo da gravidade da situação, pode ser deslocada apenas uma ambulância de socorro (do INEM, dos bombeiros ou da Cruz Vermelha). Caso seja necessário prestar suporte avançado de vida, segue uma viatura médica de emergência e reanimação (VMER), tripulada por um médico e um enfermeiro, ou um helicóptero.
As falhas podem acontecer quer na triagem, que é feita com base nas informações - nem sempre correctas - fornecidas por quem faz a chamada para o 112, ou no accionamento dos meios. O não envio de assistência é a queixa mais frequente do INEM (67 de um total de cem, no primeiro trimestre de 2007).
Em teoria, as ambulâncias de socorro deviam ter sempre uma tripulação composta por dois elementos (um deles com curso de técnico de ambulância de emergência), mas a realidade não é essa. O recente caso de Alijó - onde as duas corporações de bombeiros tinham apenas um elemento no quartel, inviabilizando, assim, a saída de uma ambulância durante a noite - é exemplo das fragilidade do sistema.
25 concelhos sem INEM
Alijó é um dos 25 concelhos do país em que o INEM não tem ambulâncias colocadas nem protocolos com os bombeiros, o que significa que as corporações locais recebem apenas em função do número de transportes que realizam. Sem apoios fixos, muitas não conseguem ter recursos suficientes para garantir dois tripulantes por ambulância, 24 horas por dia. Mas nem as que têm acordos com o INEM garantem a guarnição legalmente exigida. E há ambulâncias a funcionar apenas com o motorista ou com dois tripulantes sem a formação adequada.
Duarte Caldeira acusa o INEM de secularizar os bombeiros, desaproveitando os meios já instaladas, ao mesmo tempo que insiste numa "política autofágica e centrada no seu umbigo".
Alheio às críticas dos bombeiros, o INEM, sob a direcção de Cunha Ribeiro, prosseguiu uma estratégia de profissionalização dos serviços de socorro, assumindo protagonizo crescente. O fecho de maternidades, serviços de atendimento permanentes (SAP) e urgências fez aumentar a pressão sobre este organismo. À revolta pela falta de serviços junta-se a contestação à resposta do sistema de emergência. O INEM está debaixo de fogo. Neste clima de contestação às reformas da Saúde, cai o ministro Correia de Campos e, depois, o presidente do INEM, Cunha Ribeiro, já com a gestão de Ana Jorge. O coronel médico Abílio Gomes é o homem escolhido pela nova ministra para presidir ao instituto. Sendo certo que o INEM vai continuar a sua estratégia de reforço de meios e de profissionalização dos serviços, importa saber qual a dinâmica que vai imprimir ao funcionamento da rede e, mais do que isso, como vai gerir a conturbada relação com os bombeiros."
1 comentário:
Para falarmos de tempos de socorro a vitimas de doença súbita ou de acidente, frizemos o SIEM, a Estrela da Vida e Deus...
A triagem começa no "ti manel", passando pela "Dona Alice" até chegar, exemplo, ao "Doutor Piçarra". Enfim... é um universo escorregadio. Objectivos?? Pensa-los com muita cabeça, experiência e dedicação... Perfeita? Só a vítima!!
:)
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